Dia 06 de abril de 2018, sexta-feira. Tudo pronto. Partimos para o primeiro pedal da viagem. De Sevilha a Morón de La Frontera. Para sair da cidade montamos uma rota de mais ou menos 10k. Tudo ciclovia, maravilha. Saindo da cidade, o aplicativo Wikiloc nos daria a direção. Como disse, usando pela primeira vez, não estava muito seguro, mas seguimos em frente.
Logo saindo da cidade nosso percurso nos levava a seguir o Rio Guadaíra, numa trilha muito bonita onde encontramos muitos ciclistas, indo e vindo dos vários lugares nos arredores de Sevilha. O primeiro “pueblo”, povoado que encontramos foi Alcalá de Guadaíra e cruzamos com um pastor e centenas de cabras. O pedal foi muito interessante pois em Alcalá, entramos por uma trilha em um parque muito grande e fomos cruzando pessoas correndo, um centro de atletismo, famílias passeando.
No povoado existe um castelo que segundo os arqueólogos, remonta a idade do bronze. Acompanhando o rio por uma paisagem muito bonita, passamos por várias lavouras. Trigo, canola e oliveiras. Encontramos um viaduto chamado Ponte do Dragão. Porque tinha a forma de um dragão mesmo todo feito em mosaico. Incrível, muito interessante e ao mesmo tempo maluco. Um dragão? Sim, por ser próximo a um castelo árabe, foi uma forma de manter a tradição construindo uma ponte figurativa toda em azulejos, mosaicos, assim lembrando Gaudí e parque Guell em Barcelona.
Fomos encontrando pontos interessantes, ruínas de castelos, moinhos, e curiosa a quantidade de cactos à beira do caminho. Cactos enormes. Seguimos pedalando, pedalando, até que encontramos um rio que disseram ser possível passar empurrando as bikes, mas se estivesse cheio teríamos que encontrar a rota alternativa. O rio não estava tão cheio, porém não estava possibilitando uma pssagem empurrando as bikes. O caminho alternativo, não encontramos. A solução foi carregar as bikes nas costas e atravessar com água pelos joelhos e com um certa força de correnteza. Atravessamos uma bike por vez em dois. Assim ficou mais fácil, mas a lama que encontramos na outra margem foi um capítulo a parte. Estávamos tão enlameados e molhados que não fotografamos.
Após aquele rio tínhamos pela frente uma reta, plana com oliveiras em ambas as margens da estrada. Demos “um gás”para ganhar tempo pois queríamos chegar cedo. Encontramos duas figuras com um pneu furado e sem “la bimba”, sem a bomba para encher o pneu. Tentamos ajudar mas nossa bomba não era compatível com o bico da câmara deles. Tivemos que deixa-los à própria sorte. Pena.
Daí pra frente já avistávamos Morón, porém ainda faltavam uns 10k. Chegamos na cidade com um total de 74k e descobrimos que nosso hotel era uma casa rural. Ou seja, fora da cidade, aproximadamente uns 10k.
Colocamos o nome do hotel no Google Maps e lá fomos, seguros tranquilos. Alguns quilometros depois o Google Maps disse: “Você chegou ao seu destino” . Hein? Era uma beira de estrada com mato dos dois lados. Onde estava o hotel? Pedalamos um pouco mais, nada. Encontramos um senhor que desconhecia aquele hotel mas disse que poderíamos seguir um pouco mais a frente e provavelmente poderíamos estar no caminho certo. Com receio, decidimos voltar ao centro de Morón e de lá chamar o hotel por que na estrada ficamos sem sinal nos nossos telefones. É raro, mas acontece de você não ter sinal.
No caminho de volta ao centro, em uma paradinha que fizemos, encontramos uma boa alma que tentou nos ajudar, ligando para alguns amigos para tentar arrumar um carro grande, uma “furgoneta”, uma van, para nos levar porque segundo ele, era distante e iria escurecer, o que dificultaria encontrar o local. Ele até tentou colocar no carro dele mas não cabia. Neste instante apareceu um outro senhor de carro que sabia onde era o hotel e que nos dirigiria até lá e que chegaríamos antes de escurecer.
Pediu para que o seguíssemos. Com muita paciência, aquele senhor foi dirigindo seu carro e nos esperando por vários trechos pois tinha muita subida pelo caminho. Ao chegar a um cruzamento onde ele disse que dali para frente não teria erro, nos despedimos agradecendo quase de joelhos e seguimos por uma subida forte. Depois de 90k pedalados, aquela subida poderia nos desanimar, porém, a vontade de chegar era tão grande que não paramos até a porta da Hacienda de Las Alcabalas.
O sol já estava começando a se por, mas o lugar parecia estar vazio. Não havia ninguém. Avistamos uma porta aberta e entramos. Surpresa! Nossa bagagem estava lá. Era o lugar. Mas onde estavam todos? Recepção? Nada. Voltamos um pouco para a entrada e aparece um rapaz mancando, todo sujo, com um semblante dolorido e a gente sem entender nada. Queríamos apenas, um banho, um jantar, uma cama, por favor.
Mas alí parecia que não ia acontecer nada disso. Perguntamos como faríamos para comer. A resposta foi: “Eu faço”. Bom…daí pra frente foi entregar ao universo como diz Jussara em sua incansável fé nas forças universais.
Para finalizar, o jantar estava ótimo, com entrada, salada, prato principal, sobremesa, vinho e café.
Estava tudo certo. Acontece que o rapaz, Davi o seu nome, tinha sofrido um pequeno acidente trabalhando no jardim, e com muita dor estava deitado e não nos ouviu chegar. Ele cuida de tudo, de uma forma muito legal. Ele mostra os quartos, cozinha, serve, e dá toda atenção que um hóspede precisa. Sensacional. Mais tarde, chegou o proprietário. Didier, um francês de uma gentileza que chega a emocionar. Nosso total de pedal foi 92k. Nossa expectativa era 60, no máximo.