Voltamos. Entrando na alma portuguesa.

Depois de muito tempo, voltamos a escrever sobre nossas aventuras em duas rodas, quatro rodas e a pé também. Não paramos de pedalar, a não ser durante a pandemia onde não pedalávamos ao ar livre e sim em uma spining bike, dentro de casa, em frente a uma tela de televisão usando vídeos de pedaladas por esse mundo afora, como inspiração e motivação para não ficar sem se exercitar e fazer o que mais gostamos como esporte e turismo que é pedalar, pedalar, pedalar. Porém, nosso retorno, após 5 anos pedalando muito menos, tem uma consequência: o fator idade, não é? Jussara tinha 55, agora 60. Eu 68, agora 73. Estamos nos esforçando para não deixar isso afetar, mas há, por menor que seja, uma limitação física e isso influencia o desempenho…em todas as áreas, infelizmente. Tentei fazer uma piadinha, mas ficou fraquinha, mesmo assim vou deixar. Desculpem. 

Nessa nossa volta a registrar, o que podemos chamar de “nosso diário de viagens” pois fala de coisas muito pessoais, estamos tentando ser um pouco mais informativos e passar dicas e indicações das coisas que fazemos. Estamos aposentados e tentando fazer desse espaço uma ocupação, uma atividade que nos traga prazer e que sirva para algo, que seja útil a quem se dispuser a ler e acompanhar. Queremos contar pra vocês nossas reais impressões que vamos tendo a cada viagem, a cada aventura nova. Contar dos hotéis em que ficamos, dos restaurantes onde comemos, dos passeios, dos drinks e vinhos que bebemos, do que gostamos ou não gostamos e, vejam, é sobre o gostar ou não gostar, o que não quer dizer que a coisa é boa ou ruim. A experiência é individual. Talvez você não goste do que gostamos e ame o que não queremos nem ver. É escrever simplesmente o que vivemos e como vivemos cada momento. E, mais importante, mostrando que se tem muita vida ainda após os 60/70 anos. Basta se cuidar, não parar, não envelhecer de uma maneira ruim e comemorar cada momento, cada instante, seja viajando pelo mundo ou pelo seu país, seu estado, sua cidade, seu bairro.

Vamos lá!1

Ora pois, estamos de volta à Portugal e desta vez estamos tentando uma autorização de residência. Chegamos no final de novembro do ano passado (2023) e nos hospedamos em um apart hotel. O lugar escolhido foi Monte Estoril, bem próximo ao centro de Cascais, a 500 metros do mar.  Nessa nossa chegada tivemos um grande apoio dos amigos Pérola Paes e Guilherme Maciel, sobre os quais falaremos logo mais e Cid Maraia (Cidinho), amigo de muitos anos e de sua esposa Fabiana de Almeida (Fabi), todos eles cheios de atenção e carinho. Aliás também tivemos o prazer enorme de participar do lançamento de um livro infantil escrito pela Fabi. Ela se inspirou em escrever esse livro transcrevendo as historinhas que ela e o filho deles, o lindo e muito inteligente Joaquim, foram criando juntos quando ele era pequenino. Para ele dormir, ela ia contando as historinhas e ele participando com suas maravilhosas fantasias. Muito lindo. Nasceu daí o “Frou Frou e os biscoitos mágicos de Natal”. Procure na internet pelo nome do livro e encontrará uma forma de adquirir. É lindo para as crianças.

Durante esse curto tempo, fizemos alguns pequenos passeios de bike, baixa quilometragem. Fomos à Lisboa para comer bolinho de bacalhau recheado com queijo da Serra da Estrela e uma boa cerveja porque estávamos ansiosos por isso, desde a saída do Brasil. Visitamos amigos em Paço D’Arcos pra matar saudades, fizemos também um “pedalzinho” até o Shopping Cascais pra comprar um tênis e outro até Praia do Guincho para almoçar com vista para o mar. Uma delícia.

Decidimos passar o Natal em Alcácer do Sal, na região do Alentejo. Chegamos alguns dias antes, pedalamos de Alcácer do Sal até Santa Suzana 40km, no outro dia fomos até Comporta, e uma visita a uma vinícola em Barrosinha na região alentejana, em pedaladas de ida e volta de 30 a 80km. 

Nosso Natal foi com o queridíssimo casal, Pérola Paes e Guilherme Maciel. Muito gostoso estar com eles, muito divertido. Eles são locutores. Conheçam os trabalhos desses dois excelentes profissionais no site do Clube da Voz. https://clubedavoz.com.br/locutores/locutora-perolapaes/ https://clubedavoz.com.br/locutores/locutor-guilherme-maciel/ O Guilherme, além de um excelente locutor, também guia passeios por todo Portugal com um nome bem criativo: Voz Guia. Conheça esse lado dele no Youtube e Instagram, (https://www.youtube.com/c/VozGuia/featured – https://www.instagram.com/voz.guia.portugal/ e assista a vídeos que te farão ter vontade de vir para Portugal e fazer lindos passeios com ele.

Entre os dias 26 de dezembro e 11 de janeiro curtimos passeando com uma parte da família que veio nos visitar. Vitor e Miguel (netos), Rita (nora). O Uri (filho), ficou trabalhando, pois afinal alguém tem que trabalhar. Vieram também, Neils (sobrinho) e Rosane (irmã da Jussara). Ficaram para uma próxima temporada, Aretha e Larissa (filhas), Morena e Gabriel (netos), por questões profissionais delas. Também virão em outra oportunidade, Victor e Gabriel (sobrinhos) e David (neto mais velho), Sabrina (filha), Ricardo (genro), Patrick e Eric (netos) que vivem na Austrália, mas estavam em viagem pelos EUA.

Alugamos uma van para 9 lugares. Se viesse todo mundo teria que ser um busão. Fizemos um passeio bem interessante. Lisboa, Cascais, Cabo da Roca, Monte Mor – o Novo, Estremoz, Evora, Monsaraz, Serra da Estrela, Belmonte, Coimbra, Porto, Fátima, Nazaré e de volta a Lisboa, em um total de 15 dias. 

No dia 11/01 eles voltaram ao Brasil e nós continuamos com nossa proposta nômade de viagem. Decidimos que a melhor maneira de prosseguir com o projeto neste momento, seria comprar um carro, colocar um rack para transportar as bicicletas e sair explorando o país, ficando um tempo em cada lugar. Buscando um fornecedor para o rack e o engate, topamos com o Castelo de Queluz que recomendamos uma visita. Neste local foi onde nasceu e morreu o nosso D. Pedro I.

Enquanto esperávamos o engate ficar pronto, além da visita ao lindo Palácio, fomos almoçar em um restaurante bem local, do bairro, bem simples, onde não se vê turista algum. Na parede, esse quadrinho ao lado.

Passamos uns 15 dias em Cascais resolvendo isso tudo.  E como já tem muito tempo queríamos ver as ondas gigantes de Nazaré e elas só acontecem entre novembro e fevereiro, a Jussara se inscreveu em um site que envia alertas sobre a probabilidade de elas acontecerem. Para nossa alegria, veio um alerta de ondas gigantes previstas para o dia 22 de janeiro com a realização do “Tudor Nazaré Big Wave Challenge” ou seja uma etapa da competição de surf de ondas gigantes. Uma sorte enorme. Melhor do que só vermos as ondas, veríamos uma competição com vários surfistas brasileiros participando do desafio.

Abastecer, calibrar pneus e seguir caminho.

E lá fomos nós, claro, sempre levando as bikes. Tudo o que queríamos, aconteceu. E para melhorar ainda mais, além do espetáculo daquelas ondas, do balé dos jet skis, os brasileiros Lucas Chianca venceu no individual e, na dupla com outro brasileiro, Pedro Scooby e…muito mais ainda. No feminino tivemos mais Brasil com a vencedora Maya Gabeira. Brasil de cabo a rabo e na coordenação de toda a segurança, pilotando magistralmente o jet ski estava mais um brasileiro, o Alemão de Maresias, grande surfista e que já fez importantes resgates nessas enormes ondas de mais de 20 metros. Quando puder, vindo a Portugal vá conhecer Nazaré.

Pôr do sol em Nazaré

Com ondas gigantes um espetáculo imperdível e, sem as ondas gigantes, também um lugar imperdível. Claro que aproveitamos nossos dias por lá para conhecer lugarejos por perto e fizemos 3 passeios deliciosos de bike. Um primeiro até São Pedro do Moel (30km), mas não chegamos até lá. Calculamos mal o tempo e tivemos que voltar depois de 19km pois ia escurecer e estávamos sem nossos faroletes. Repetimos dois dias depois e chegamos até São Pedro. Conhecemos também São Martinho do Porto, uma vila em uma praia bem interessante. Foram dias maravilhosos. Nazaré é linda, as ondas incríveis, a competição emocionante, as pedaladas pela região, sensacionais. Encantados pensamos: aqui é o lugar para morar. O que não é uma verdade, como poderão ver na sequência de nossa história. 

São Martinho do Porto

27 de janeiro, de volta a Cascais, estávamos ainda planejando os próximos passos quando surgiu, quatro dias depois, um convite para um desafio entre os dias 2 e 4 de fevereiro. E como não resistimos a uma boa aventura, aceitamos a provocação de um querido amigo, Sergio, que tem uma empresa de ciclo turismo no Porto, a Top Bike Tours. Ele precisava confirmar alguns trechos e hoteis do trajeto de um tour que lançou em seu site www.topbiketoursportugal.com, de León a Santiago de Compostela, na Espanha. Um trecho do famoso caminho francês de Santiago.

O passeio original que ele fará com os cicloturistas, de León a Santiago, será de 320km em 8 dias e 7 noites, mas para confirmar os trechos e hotéis de parada, o Sergio teria que fazer em 3 dias por causa de compromissos profissionais dele. E assim foi. Fizemos os 320km em 3 dias. Todos os dias começando o pedal com baixas temperaturas, entre 1 e 4 graus. No último dia saímos ainda no escuro, no inverno amanhece mais tarde, saímos às 6:30 da manhã e chegamos em Santiago, também no escuro, às 20:00hs. Desafio cumprido. Foi sensacional. Cansativo, mas altamente gratificante pelas paisagens, caminhos e vilas espanholas pelas quais passamos. Muito provavelmente faremos novamente, mas em 6 ou 7 dias para curtir cada pedacinho do caminho com mais calma, saboreando cada metro.

Voltamos na mesma noite para o Porto. Dormimos em um hotel perto do Porto, em Espinho, Hotel Solverde Spa & Wellness Center, um lugar bem legal, tanto a cidade como o hotel. No outro dia, 5 de fevereiro, voltamos para o nosso gostoso cantinho em Cascais.

Queríamos ter ficado mais algum tempo nesse cantinho (um flat, pouco maior que um motorhome para 2 pessoas) porém já estava alugado e tivemos que mudar. Voltamos para os lados de Estoril, agora em São Pedro do Estoril. Fizemos uma pausa forçada de uns 15 dias por questões de saúde. Nada relacionado às pedaladas de dias atrás. Uma crise de diverticulite da Jussara, interrompeu nossas pedaladas e passeios. Ficamos quietinhos, aproveitando para escolher fotos, escrever, participar de reuniões online e resolver coisinhas do Brasil. Trabalhar um pouco.

O difícil, além, claro, da preocupação com o repouso e recuperação da Jussara, foi ficar em casa com um sol maravilhoso brilhando lá fora todos os dias. Minha bike estava em revisão séria de amortecedores e cambio no Porto, mas a da Jussara estava com a gente e ela poderia ter feito uns passeios pela costa pelo menos. Infelizmente não deu.
Passadas as duas semanas, dia 25 de fevereiro era hora de tocar pra frente e decidimos rumar para Viana do Castelo, ao norte, mas antes passaríamos no Porto para pegar minha bike e deixar a da Jussara também para uma revisão de amortecedores e cambio, já que nossas bikes tem a mesma idade e nunca fizemos uma revisão desse naipe. Ficamos 3 noites por lá e seguimos para Viana do Castelo no dia 28 de fevereiro, onde nos esperava nossa nova casinha, na freguesia de Vila Nova de Anha, um studio no qual decidimos permanecer por um mês. “Living Viana do Castelo” pelo Airbnb. Recomendamos muito pois além de ser um espaço com tudo o que se precisa para uma estada confortável, como supermercados próximos, restaurantes, farmácia e uma padaria deliciosa literalmente ao lado, ainda recebemos o carinho de Dona Augustinha que nos trouxe maças, laranjas, mexericas. Se vier por estas bandas, de uma olhada.

Tem um detalhe que a gente já conhecia, mas tínhamos esquecido. No inverno chove bastante no norte do país e quando chegamos, já encaramos um pouco de chuva que, infelizmente, se alongou e piorou por uma semana. Sem poder sair, passamos o tempo a ligar para o órgão governamental (AIMA) que trata da concessão de vistos de residência entre outras coisas, para tentar regularizar nossa situação de imigrantes. Estamos encarando momentos difíceis com essa terrível burocracia. Aliás, nós e mais alguns milhares de imigrantes de todas as partes do mundo. Mas, creiam, nada tira nosso tesão de conhecer lugares e pessoas, portanto, como se diz muito aqui pelo norte do país, se o caralho do AIMA não resolver o problema, foda-se.

Nos dias seguintes, a chuva deu uma pequeníssima pausa e, loucos para dar uma pedalada, fomos para o ginásio (academia) de bicicleta. Uma delícia de dia ensolarado com pouco vento e conhecemos um pouco mais da vila (freguesia), Vila Nova de Anha, com suas ruelas e casas de pedra, é um lugar que te leva ao passado, um passado bem distante. Há registro dessa vila (freguesia) desde o final do século IX e o nome então era Ânia. Toda a região faz parte de Viana do Castelo, uma das cidades mais antigas de Portugal. É uma cidade muito bonita, muito agradável, muito receptiva. Não é um lugar muito atraente para imigrantes em busca de trabalho e sim para os que buscam sossego, paz e segurança com tudo à disposição. Um comércio forte, boas praias, muita natureza em torno. 

Essa decisão de passar um mês em cada lugar faz com que tenhamos que conhecer lugares para compras, como supermercados, feiras, padarias e, foi assim que descobrimos que às sextas-feiras, acontece a
Feira de Produtores Locais em Viana do Castelo, produtos orgânicos fresquíssimos e compramos frutas, verduras, legumes e até flores par dar um toque mais pessoal à casinha.

Como já contamos, chove e venta muito no norte de Portugal no inverno e durante nossa estada nesse sítio (lugar) foram muitos dias, então se não da para pedalar, vai-se de carro mesmo. Fomos até Ponte de Lima, uma linda cidadezinha, que dependendo da estrada que se escolhe, fica de 23 a 30km de nossa vila. Fomos pela mais curta que é uma via passando por dentro de todas as vilas próximas. É muito agradável. Reservamos um restaurante muito bom, o Petiscas, indicado no Guia Michelin 2023 que é muito bom e fica do outro lado da ponte, oposto à cidade, em uma pracinha. Largo da Alegria. É bom reservar. +351 964 006 607.

A semana começou com o tempo bom e pudemos curtir pedalar até a academia e após o treino, demos uma esticada no pedal pela praia norte saindo de Viana do Castelo. A intenção era ir até a Vila Praia de Âncora, 22km, mas a fome bateu no meio do caminho, na Praia de Carreço e paramos para comer. Tivemos que voltar um pouquinho para encontrar o Restaurante Alquimista. Bonitinho, pequeno, mas excelente. Av. da Igreja, 31.

  1. ↩︎

Leave a comment